terça-feira, fevereiro 13, 2007

Uma foto uma história

Por: Ness Xpress


O assador

Prometeram-lhe um passeio turístico maravilhoso. Seria admirada, aplaudida, pedir-lhe-iam autógrafos, plantar-se-iam ao seu lado para ficarem naquelas fotografias do telemóvel que depois enviam para programas de televisão onde fazem a inveja dos amigos por terem estado ao lado de tão ilustre personagem.

Elevou o seu porte altivo, onde refulgem as cores brilhantes, ainda polidas, da fatiota nova e lá partiu rumo às prazenteiras terras da Costa Verde, de mala Prada a tiracolo, onde os jovens lavradores trigueiros, produtores da bela cebola e da não menos impressionante cenoura, se derreteriam, prostrados aos seus pés.

Mostrava, então, orgulhosa, suas formas roliças quando os olhos conhecedores do mais afamado assador do celebérrimo restaurante de A-Ver-o-Mar nela se fixaram. De súbito, um pensamento perpassou pela mente do artista: “Seria cá um petisco de primeira, até o Pinto maior e os seus amigos viriam degustar este manjar de primeira”. Ela pressentiu o perigo, esboçando um primeiro movimento alvoroçado. Lesto, de espeto em punho, que assador que se preze tem sempre espeto afiado à mão para qualquer eventualidade, ele desferiu o primeiro golpe, que não foi fatal por ainda resvalar no braço de um dos acompanhantes da nossa personagem. Recompondo-se como pode, ela recuou, inspirou fundo, e, erguendo o bico afiado, desferiu um golpe certeiro, parecido com uma martelada na cabeça de um prego, mas como se fosse o prego a impulsionar o martelo. O assador não se fez rogado, aguentou a pancada e, recompondo-se, desferiu segundo golpe, desta vez mortal.

A pobre ave cambaleou, rodopiou, volteou e rendeu-se ao espeto do afamado assador, Mendonça de seu nome, que nem o mais grego dos Santos lhe valeu. Terminou à mesa da famosa Casa dos Frangos, reduzida à sua real dimensão.

Na berma da estrada, esquecida da refrega da luta, ficou tombada a mala Prada, aberta, de onde emergia um frasco de um estranho perfume. Tinha-se aberto, libertando uma essência prevista para a festa do Jamor, preparada a partir dos corações mais uma vez despedaçados de quem ainda acredita em aves de rapina longe das altas montanhas.

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És muito engraçadinho...

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