segunda-feira, setembro 20, 2004

Em forma de vapor

Pubs ingleses adoptam aparelho que permite inalar uísque e vodka em vez de ingeri-los.

Uma novidade está alterando a rotina dos pubs ingleses, aqueles bares típicos que reúnem beberrões em torno de canecas de cerveja, copos de uísque e tabuleiros de dardos. Um punhado deles passou a abrigar nos últimos meses uma curiosa engenhoca que pretende revolucionar a forma como há milénios o ser humano consome bebidas alcoólicas. O aparelho é composto de uma pequena máquina geradora de oxigênio à qual se acoplam um tubo de plástico e uma máscara de inalação com compartimento para líquidos – semelhante àquelas usadas pelos asmáticos. O conjunto permite que o bebedor, em lugar de tomar normalmente uma dose de uísque, vodka ou qualquer outro destilado, aspire o líquido pela boca, diluído numa nuvem de vapor. O processo não traz conforto para quem quer embriagar-se: são necessários vinte minutos de inalação para consumir o equivalente a uma dose de bebida.

De acordo com seu inventor, o inglês Dominic Simler, o benefício da engenhoca, batizada de awol (sigla em inglês para alcohol without liquid, ou "álcool sem líquido"), em relação à forma convencional de tomar uma bebida é mais bem sentido no dia seguinte. Não há ressacas nem outros efeitos colaterais, já que a bebida não é processada pelo estômago nem pelo fígado, segundo Simler. Pela mesma razão, seria evitada a ingestão das calorias presentes nas bebidas alcoólicas. Os médicos não compartilham do entusiasmo de Simler e desmentem a maioria de suas afirmações. "Inalar a bebida intoxica a pessoa da mesma forma e ainda aumenta o risco de danos cerebrais", alerta o inglês Oliver James, professor da Universidade de Newcastle.

O argumento de que a bebida inalada não engorda também é contestado. "Mesmo em forma de vapor, o álcool mantém suas calorias porque elas estão presentes no etanol, componente que não se altera mesmo quando inalado", diz Antonio Carlos Lopes, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. A principal crítica que se pode fazer ao awol fundamenta-se apenas no bom senso. As bebidas alcoólicas, quando consumidas de maneira moderada, sempre estiveram associadas ao prazer e à alegria, ao convívio social e às comemorações. Aprecia-se um cálice de vinho ou uma dose de uísque pelo sabor e pelo aroma, não por sua capacidade de embriagar quem bebe. Nesse sentido, a máquina de Simler inverte o papel das bebidas alcoólicas na sociedade de uma forma sinistra. Sob sua óptica, elas só servem para embebedar.

Na Inglaterra, o awol é nova fonte de apreensão entre as autoridades, há tempos empenhadas numa campanha para frear o hábito dos súditos da rainha de beber com o objetivo explícito de ficar de porre e fazer desordens nas ruas das cidades. Na Europa, os ingleses são os maiores consumidores de bebidas alcoólicas, atrás apenas dos irlandeses. "Precisamos evitar que a combinação de álcool e arruaça se transforme numa doença crônica do povo britânico", declarou há poucos meses o primeiro-ministro Tony Blair.

Realmente, também não estou a ver a piada de snifar bebida. Acho que acto de beber copo deve efectivamente estar associado ao convívio com os amigos.


Afinal não são os portugueses que mais bebem...

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