quinta-feira, março 22, 2007

Uma foto uma história


The deer hunter


Foi o aspecto esbelto que lhe despertou os sentidos. O ar polido também ajudou, parecia ter músculos de aço, num corpo onde nem um grama que não fosse da mais pura fibra metálica se vislumbrava. Imaginou-se a derreter com suas mãos o grão reluzente daquela pele sem falhas. Até que viu o verde límpido dos seus olhos faiscantes.

Aproximou-se. Encheu o peito de ar e arriscou:

- Se os lagos que alimentam os arrozais vietnamitas tiverem uma água com metade do brilho dos seus olhos, então compro já o bilhete de avião e volto a pé se for preciso.

A frieza com que ela o olhou foi metálica.

- Lembra-se do “Caçador”? Tenha cuidado com as sanguessugas.

Não desarmou.

- Conseguiu acertar num dos meus filmes de culto. A América dos anos 70.
- Você é daqueles que pensa que tudo era melhor por ser livre. É um adepto do flower power.

Entusiasmado, não pressentiu o perigo.

- Esse filme já vi. O outro é um filme mais genuíno do ponto de vista das consequências da guerra. Gosto da atmosfera tensa, a cena da roleta russa é um clássico.

O olhar frio iluminou-se, com um brilho de gelar.

- É então um jogador.
- Gosto de arriscar. Quem não arrisca não petisca.

Os lábios dela esboçaram um leve sorriso matreiro.

- Já jogou à roleta russa?
- Nunca nenhuma mulher bonita me concedeu tamanho privilégio.
- Então hoje é o seu dia.

Num gesto rápido de felina, rodou sobre si própria e aplicou-lhe um colocadíssimo pontapé nas bobinas da fita.

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